Uma luz vinda da África
Em 2007 o Papa Bento XVI nomeava Dom João Alves dos Santos, bispo de uma importante cidade do Paraná.
Tal fato não chamaria demasiadamente à atenção não fosse um detalhe dos mais relevantes: Dom João é um negro.
Como nos Poderes Legislativos, Executivo e Judiciário, a presença dos afro-descendentes na Igreja é tão escassa quanto nas Forças Armadas do País.
E do mundo.
A face discriminatória da Igreja é milenar e revela algo que assusta e constrange.
Em dois mil anos de cristianismo o Vaticano não levou aos altares nem uma dezena de santos negros.
São, na verdade, apenas oito.
E nada mais do que dois papas negros ocuparam o lugar de Pedro em Roma.
No Brasil, para um contingente de 190 milhões de pessoas temos 434 bispos dos quais somente 11 são negros.
Isso corresponde a 2,5% dos prelados brasileiros.
Números da CNBB demonstram que existem hoje 18.882 padres no Brasil.
Destes, 15.803 são nativos e 2.800 estrangeiros.
Pouco mais de 1.000 desse total de sacerdotes são negros.
Para cada padre negro nascido no Brasil há oito estrangeiros da mesma cor.
E imaginar que 45% da população brasileira é negra, segundo o IBGE.
Quando foi nomeado aquele bispo do Paraná disse que estava otimista.
Para ele a chegada ao episcopado pelos afro-descendentes poderia virar uma tendência.
Se virou ou não, o certo é que Bento XVI parece querer rever a postura discriminatória da Igreja contra os negros.
Ele acaba de nomear o Mons. Teodoro Mendes Tavares, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém.
Dom Teodoro, como Dom João é um negro.
Um cabo-verdiano.
Um africano.
Um presente para a Igreja de Belém e para os paraenses.
O bispo auxiliar, por definição, é aquele que assiste o arcebispo no seu pastoreio.
Dom Tavares será ordenado em 8 de maio e sua posse ocorrerá no dia de Corpus Christi, 23 de junho.
Dom Tavares é um missionário e há quinze anos desenvolve suas atividades na Amazônia.
Dom Tavares é um jovem sacerdote. Tem apenas 43 anos de idade.
Sua chegada à Belém traz uma onda de luz sobre o passado da Igreja.
Uma Igreja que passou 66 anos para se pronunciar contra a abolição da escravatura neste país.
Uma luta iniciada pelos abolicionistas desde a Independência do Brasil, em 1822.
Bem-vindo, Dom Tavares!
Usando as palavras do Arcebispo de Porto Alegre, que por sinal é o primeiro e único bispo negro gaúcho ao se referir ao Arcebispo Emérito da Paraíba, “sua nomeação é o reconhecimento oficial da Igreja pelo seu valiosíssimo e imprescindível trabalho na organização do clero afro-brasileiro a denunciar a discriminação e a alertar os bispos sobre a necessidade de a Igreja dar mais atenção aos negros”.
O numero ainda é pequeno, mas já acontece uma mudança, já vi bispo negro, só não vi ainda nenhum de origem oriental!
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