segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

LULA, O MENOS IGUAL DOS POLÍTICOS

Isso depois de apenas 8 anos de governo


Dou uma passada no melhor site da esquerda brasileira - o Vermelho - e me deparo com uma das melhores, mais brilhante e irretocável postagens publicadas do dia 1º do ano até aqui.
É a descrição fiel e comovente de um emocionado agradecimento da população ao seu Presidente - o retirante de Caités.
Um texto lapidar e histórico.
Como o mandato de Lula.
Lula, o cara, o que fez a diferença.
O menos igual entre os milhares de políticos iguais.
Vá logo ao antológico texto do João Peres.

"Valeu, Lula"

Poucas dores são tão dilacerantes quanto a da despedida. Poucos arrepios são tão imediatos e intensos quanto o do contato com o ídolo. O segundo sistema nervoso, aquele que a rua cria em alguns dos humanos, dá vazão rápida às emoções.

por João Peres, para a Rede Brasil Atual

A mão de Lula parece ter ligação direta com o cérebro alheio e, uma a uma, abrem-se as bocas, inundam-se de lágrimas os rostos apoiados na grade em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, para a despedida do presidente. São roubados quatro ou cinco minutos da posse de Dilma Rousseff, tão históricos quanto todas as horas que as antecederam e as que vão suceder este momento.

Lula, mais uma vez, rompe protocolos e coloca em xeque o lugar comum de que não há espaço para ídolos na política brasileira. Se todos os políticos são iguais, Lula é menos igual que os outros. Faz menos de uma hora que deixou a Presidência da República e já é o ex-presidente mais querido do Brasil dos últimos 50 anos – colocá-lo acima ou abaixo de Getúlio Vargas seria temerário e o melhor é deixar que a história faça esse ranking, se é que se faz necessário.

Sua última cena no Planalto é, também, uma das grandes cenas de sua vida. Não há notícia de um presidente que tenha chegado e saído do poder nos braços do povo. Quando Lula desceu a rampa do Palácio, deveria ter entrado no carro e ido direto ao aeroporto, de onde embarcaria para o patinoso terreno da vida de ex-chefe de Estado. Mas o chamado do povo, o mesmo feito há pouco mais de três décadas, foi mais forte e seria impossível ignorar a existência de uma massa clamorosa por seu líder.

As estatísticas mostram que Lula foi o presidente mais popular, tendo deixado o poder com apenas 3% de rejeição. O que estatística alguma será capaz de dimensionar é a adoração a este homem. A cena da capital federal deste 1º de ano será mais fiel aos fatos que qualquer medição.

O leitor que não teve como visualizar poderia imaginar o seguinte: Roberto Carlos colado na grade do Maracanã abraçando os fãs na antiga Geral. Troque-se o cantor por Lula e o mítico estádio por Brasília e se terá uma visão daquilo a que parte do país assistiu nesse sábado. Não se pode saber se o rosto de Lula está molhado por suor, lágrimas ou a chuva desta tarde quente. Nos olhos, guarda mistério, entre a tristeza, a ternura e o agradecimento.

O povo

Quiseram as regras que o dia consagrado mundialmente à ressaca fosse também a celebração da vontade de um povo – o congraçamento, usando as palavras da nova presidente. Não se pode dizer que essas milhares de pessoas vieram a Brasília simplesmente pela posse: quem apoia Dilma é, via de regra, um apoiador de Lula. Tampouco seria justo afirmar que tenham vindo apenas por Lula: quem o admirou ao longo de oito anos assumiu o pacto de transferir a admiração a Dilma.

Quis a política que essa data fosse, ao mesmo tempo, a assunção da primeira mulher a comandar o país e a saída do presidente mais popular de sua história. Brasília, oito anos depois, é tomada pelo povo, repleta de bandeiras vermelhas e verde-amarelas.

Diz a regra jornalística que os personagens apresentados em uma reportagem devem ser identificados pelo nome e, se necessário, por idade e profissão. Mas, na grade do Planalto, cada pergunta era respondida coletivamente, a fala de um era a fala dos outros, todas dadas ao mesmo tempo, neste mosaico de cabeças e neste jogral de vozes ansiosas por demonstrar fraternidade. Aqueles que têm voz nesta matéria, portanto, serão apresentados sob uma denominação genérica, escolhida ao acaso, como, por exemplo, o povo.

– De onde você veio?

– Macapá. Amazonas. Mato Grosso. Viajei quarenta e duas horas de ônibus. Paraná. Bahia. São Paulo. Foram dois dias na estrada. Sou daqui de Brasília. Fortaleza. Maranhão.

– E o que Lula representa para você?

– Lula, a gente não vai esquecer nunca. É o cara. É o guerreiro. É saúde, é comida, é Bolsa Família. É o símbolo da nossa democracia. Diziam que ele não sabia ler, que não ia conseguir governar, e agora fez até a sucessora.

– E do governo Dilma, o que você espera?

– Vai ser melhor porque ela já sabe tudo o que fizeram de errado com ele. Agora é pensar em segurança e educação. A Dilma já pegou a cama arrumada, é mais fácil. Complicado foi o Lula que pegou a cama toda quebrada.

O ex-presidente, conhecido pelo calor dos discursos, desta vez prefere falar pela boca do povo. Quando abre a sua, acompanhada pelos olhos marejados, fita pela última vez para a equipe que o acompanhou ao longo de oito anos e consegue emitir apenas uma palavra: “obrigado.”

Que nada. O povo é que diz: "Valeu, Lula."

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