segunda-feira, 29 de março de 2010

O CASO ISABELLA E A ESPETACULARIZAÇÃO DA MÍDIA OPORTUNISTA

A imagem transformada em espetáculo
Era março de 2008 quando o País se indignou, sofreu e se emocionou com a morte de uma menina em São Paulo. O dia era 29, um domingo.
A menina se chamava Izabella. Isabella Nordonni. Ela tinha 5 anos.
Intrigante e inaceitável, o caso ocupou os noticiários durante período infindo.
A mídia, oportunistamente, o explorou à exaustão.
A despeito do interesse e do grau de comoção que gerou, ninguém mais aguentava falar do Caso Isabella.
O País, o mundo, as pessoas.
O ciclo natural das coisas não pode parar.
Porque a nave da vida segue, inapelavelmente o seu intinerário, ainda que vidas sejam perdidas. Só a mídia atravancou as passagens e empacou no caminho.

A morte trágica de uma garota de classe média em SP fez a mídia estacionar no tempo e sua pauta não abria espaço para novos assuntos. Aquelas notícias carregadas de forte apelo emocional junto às massas eram afagos no ego de jornalistas e apresentadores de programas sensacionalistas.
Quando o Faustão exibe uma atração no seu Domingão, o tempo de permanência desta no ar está relacionada a sua “capacidade” de atrair a atenção do telespectador.
Se o telespectador não se sente atraído por tal atração esta tem seu tempo de exibição reduzido sendo imediatamente substituída por outra.
O caso Isabella virou, de forma grotesca e lamentável, essa atração nas mídias impressa e televisiva, sobretudo.
Por garantir audiência e, por conseguinte, retorno às empresas de comunicação.
Elas são movidas por um combustível chamado capital.
A mídia é um grande mercado obstinadamente voltado para o seu próprio lucro e o de quem a financia.
Não é desumanidade ou incensibilidade.
Nem tampouco desrespeito à memória da pequena Isabella e à dor de sua mãe.

Oporturno se faz que se refleita sobre o poder da imagem que esteve em ação nesse caso. Um poder que desconhece limites e ignora todo e qualquer sentimento humano.
A psicóloga e socióloga Nilda Jock, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) disse ao Portal G1, que “o caso de Isabella desperta uma comoção especial pelo “poder da imagem”.
Para ela “a imagem tem um poder muito forte. Como não levar em consideração esse bombardeio de imagens? Nós todos vivemos o impacto desse caso durante dias”.
Nilda termina afirmando que “a transmissão quase simultânea de imagens nos transformou em testemunhas. Toda vez que a foto de Isabella é mostrada, isso volta a nos ferir”.
Para os que acreditam que o coração só sente aquilo que é visto pelos olhos, essa assertiva deve ter se tornado numa daquelas verdades irrefutáveis.
No entanto, há que se registrar que casos semelhantes e até mais escabrosos, e impactantes ocorrem cotidianamente neste País.
A diferença é que em muitos deles são envolvidas – tanto as vítimas quanto os criminosos – pessoas de classe inferior (de C a Z eu diria) do ponto de vista social, cultural e, sobretudo, econômico.

E a mídia não os repercute... e roubam da sociedade a chance de se indignar com as injustiças.
Falar de gente pobre, sempre de pele suja e fustigada pelo sol ocupantre de barracos.
Erguidos nos morros, nas periferias.
Não dá ibope para a mídia elitista.
Nem quando o assunto, excessões à parte, é a barbárie.
Quem, senão uma insignificante minoria, se importa, por exemplo, com a vida – muito menos com a morte – de uma menina pobre e negra mesmo que ela morra de fome ou seja vítima de estupro cometido, imaginemos, pelo pai?
Quem se preocupa com a causa de sua morte?
Quantas isabellas não são atiradas dos edifícios da dignidade humana rumo ao precipício do abandono e despencam no vácuo das drogas, da indigência, da medicância e da prostituição morrendo para a vida, ainda que apenas sobrevivam num jardim sem flores e tomado de espinhos?

A mídia é assim. Ela tem o poder de tocar o lado psico-emotivo e de suscitar paixões.
Quando lhe é devidamente conveniente.
De influenciar comportamentos e decisões, de persuadir, de ditar regras e manipular mentes.
Desde a morte de Isabella até o julgamento do casal nardoni esteve, com estupefata força em curso algo chamado a ditadura midiática.
Ela permeiou a vida de milhares de brasileiros. Gente que levada, de forma não tão consciente, a opinar apaixonadamente sobre o caso, compreensivelmente sempre sobre a ótica condenatória dos acusados.
De modo a satisfazer os propósitos...
O casal foi condenado pelo conselho de setença. O resultado foi justo.
Isso é inquestionável?

Todavia, esta inútil crônica não se propõe a julgar as dicisões do tribunal do juri.
Antes, me refirimo à força de poder e de convencimento da mídia e sua atuação influente e tendenciosa levado a efeito.
Isso não importa, talvez.
Entretanto, vê-se que a mídia tem influenciado as atitudes e comprtamentos da sociedade não apenas nesse mas em outros casos, como o da jovem Eloá, sequestrada e morta pelo namorado, também em São Paulo.
A “força passional” e obecessiva da mídia deixou sua marca ainda nos episódios das quedas dos aviões da TAM, GOL e, por último no da Air France, na costa atlântica brasileira.
Mas não podemos esquecer de sua espetaculosa atuação no atentado do 11 de setembro dos EUA.

Com semelhante, porém contínuo ímpeto, a mídia se arvora em se tornar o árbitro e estipulador do debate nacional nas três esferas de poder cuja genda ela supõe formular e decidir com sua indisfarçável preferência partidária e política.
A depender unicamente de mídia, as decisões se consumariam em tragédias para Brasília porquanto isso implicaria na volta ao Poder do grupo político em decadência com o qual se afina.
Exceto as notícias do Governo Lula sistematicamente e propositalmente dadas de um ângulo negativo, é um conceito padrão da mídia transformar instantaneamente imagens em espetáculo. Os anúncios, a novelas os programas de auditório são uma demonstração do poder da imagem onde tudo aparece lindo e perfeito como obeto propício ao consumo.
Para que, a partir destas, o telespectador seja induzido a formar com carência de isenção e ausência de conhecimento, qualquer juízo de valor.
A mídia brasileira viola o art. 220 da Constituição Brasileira. Ela, a mídia lê e ionterpreta da Lei de acordo com as suas conveniências.

A mídia só ver direitos e ignora seus deveres diante da Carta do Povo.
Ela ignora e desrespeita o Povo.
A mídia deveria ser o guardirão do respeito e dos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
São princípios constitucionais básicos e dispositivos legais cotidianamente violados pela programação das TVs.
A mídia é uma fachada atrás da qual habita a hipocrisia: enquanto a Globo finge defender a honra e lamentar a morte da pequena Isabella... a Globo se arroga o direito de usar seu desenfreado poder para violar direitos humanos e disseminar programas incentivadores da sexualidade precoce, do sexismo, da homofobia e do racismo, além de exibir documentários que exploram a violência, com objetivo de garantir a “audiência” do público.

A cara dissimulada de consternação e velada defesa da honra e da moral feita pelo casal Bonner no Jornal Nacional é inapelavelmente, injustificadamente desmacarada pelos intragáveis “viver a vida” e BBB’s globais que o sucedem.

Referências: www.metodista.br/jornal-metodista;

Um comentário:

  1. amei a crônica. parabenss!!!
    Realmente estamos vivendo na era das celebridades instataneas, seja elas assassinas ou não.

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