segunda-feira, 8 de março de 2010

O PIG NÃO VALE UMA LATA DE CERVEJA

Altamiro Borges: O 8 de Março e a mídia “devassa”

A convocatória do protesto paulista do Dia Internacional da Mulher deu ênfase ao papel deletério dos meios privados de comunicação. Num dos trechos, o texto critica o “oligopólio da mídia, que colabora na criminalização dos movimentos sociais... Os grandes jornais e os programas de TV omitem as ações dos que lutam para melhorar as condições de vida da população pobre, omitem a participação das mulheres, jovens e negros, as suas formas de ver a vida e a política, ao mesmo tempo em que fazem a propaganda dos valores capitalistas e dos políticos que os defendem”.A manipulação midiática é bastante sentida pelos movimentos feministas. Tanto que as mulheres se destacaram na preparação da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), elegendo o maior número de delegadas e liderando os debates nos estados. Elas sentem na carne e na alma o papel regressivo da mídia privada, que estigmatiza as mulheres, tratando-as como mercadorias. Nas vésperas da comemoração do Dia Internacional da Mulher, um anúncio publicitário da indústria de cerveja Schincariol confirmou esta visão distorcida. Coincidência ou provocação? A mulher como mercadoriaPara divulgar seu novo produto, a cerveja “Devassa”, a empresa contratou a modelo Paris Hilton, socialite decadente, que recebeu US$ 800 mil para gravar uma peça de 60 segundos num estúdio de Los Angeles. A Schincariol investiu cerca de R$ 100 milhões no lançamento da mercadoria. A modelo virou, inclusive, a atração principal do camarote da empresa nos desfiles das escolas de samba na Sapucaí, numa estratégia ousada para dar visibilidade ao produto. Em poucos dias, a nova marca já deu lucros de R$ 10 milhões para a empresa, explorando a imagem da mulher. O anúncio é um desrespeito às mulheres, que são exibidas como devassas. Pai de três meninas, o blogueiro Eduardo Guimarães se indignou. “Particularmente, sou contra o moralismo... Contudo, é escandalosamente claro que a propaganda da Schincariol é inaceitável”. Ele também criticou a mídia, que utilizou o episódio da proibição do anúncio para atacar o governo Lula. “Essa gritaria midiática contra uma medida correta de proteção à imagem da mulher e contrária ao estímulo de comportamentos degradantes como a devassidão pode até ser prestação de serviço à cervejaria que fez a propaganda... Convenhamos: se existe alguma devassa nessa história é essa mídia”. A gritaria dos mercenários da mídiaO próprio Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar), sempre tão submisso aos abusos da mídia, considerou a propaganda abusiva. A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres também condenou o anúncio, criticando seu “conteúdo sexista e desrespeito à mulher”. Diante das ásperas críticas, o Conar vetou a publicidade. De imediato, os barões da mídia e seus colunistas de aluguel vieram à tona para denunciar a “censura”. O jornal O Estado de S.Paulo divulgou texto irônico, intitulado “Tempestade em lata de cerveja”, para desqualificar a decisão.Para os barões da mídia, preocupados unicamente com seus lucros em publicidade, a proibição do anúncio da “Devassa” é um ato autoritário e anti-mercado. “A publicidade sempre trabalhou e continuará trabalhando com símbolos e estereótipos”, justifica o articulista do Estadão. Para os donos da mídia, a mulher é objeto vendável, uma mercadoria lucrativa, e assim deve continuar a ser exibida nas emissoras de televisão, nos jornalões e revistas. Para eles, a comemoração do Dia Internacional da Mulher deve ser um entrave aos seus lucrativos negócios. Viva o 8 de Março

Um comentário:

  1. Indignação devassa

    O veto à propaganda com Paris Hilton nasceu das melhores intenções e redundou numa trapalhada desnecessária. Parece inútil querer controlar o ambiente publicitário brasileiro (que alia excelência técnica e freqüente desprezo pelo interesse público) sem regulamentação sólida e indiscutível.
    A decisão do Conar insere-se numa tendência crescente de intervenção sobre as esferas individual e privada. A moda é relativamente contemporânea e costuma ser fantasiada de modernidade esclarecida. Olhando ao redor, podemos descobrir diversas de suas criaturas: a canetada antitabagista de José Serra, autoritária e inconstitucional; o patético banimento de bebidas alcoólicas dos estádios de futebol; a proibição da Marcha da Maconha, abuso que a cúpula do Judiciário impediria se tivesse verdadeira índole republicana; a criminalização do uso de drogas e do aborto e por aí vai.
    O espírito conservador desconhece bandeiras e ideologias. Agora é fácil atacar o governo federal, fingindo hipocritamente que a ingerência nasceu com o lulopetismo. Pois lamento, a reação veio tarde. A tesoura contra a publicidade de cerveja poderia ter sido evitada se os liberais de plantão reagissem lá atrás, quando seus ídolos políticos espalhavam as sementes da sanha estatal, sob aplausos das boas famílias.
    Não foi por falta de aviso.

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