
Quantos potes de doce o freguês levaria para casa com duzentos e oitenta milhões de reais?
Com a quantidade de doce comprado com essa dinheirama daria, com certeza, pra encher uma kombi dessas, que segundo o Ministro Gilmar Mendes, não encheria com os que lhe criticam .
É difícil entender o conceito de justiça para Gilmar Mendes. Se é que ele faz esse conceito.
Talvez quando ele sair às ruas descubra que a justiça que condena quem rouba um pote de doce é a mesma justiça que deve igualmente, condenar quem rouba milhões.
Ocorre que há diferencial aí. Roubar doces é coisa de pobre. Já quem rouba R$ 280 milhões é Deputado-Taturana de Alagoas e, obviamente, o seu colarinho é da cor branca. Faz parte de uma quadrilha e tem bons (e caros) advogados pagos com o dinheiro do contribuinte.
A Polícia Federal – que já foi mais respeitada, respeitável e republicana – está parece aquela criança que constrói castelo de areia na praia: ela mal acaba de fazer o castelo e vem a onda e desmancha. Aí, ela faz outro castelo e, sem nenhuma cerimônia, o mar desfaz tudo de novo.
A PF faz e Gilmar desfaz.
Ela prende e ele solta.
Às vezes até leva tempo entre um e outro ato.
Às vezes isso só leva 48 horas. Que o diga Daniel Dantas, que em dois dias foi preso e em dois dias Gilmar Mendes lhe concedeu dois HC.
Se DD fosse aquele sujeito lá da esquina, sem dúvida, Gilmar o deixaria na cadeia por um longo tempo.
O episódio final da história dos oito deputados alagoanos acusados de terem desviados (desviar é verbo chic usada para substitui a palavra roubar) 280 milhões da Assembleia Legislativa do Estado não teria nenhuma graça sem a intervenção de Gilmar Mendes. Soltar ladrão é a arte dele e o que ele faz de melhor. Mas só se o bandido for importante, se ele for banqueiro ou político.
Sendo um dos dois, é provável que quem os investiga passe a ser investigado e quem os acusa passe a ser acusado.
E chamado de destemeprado.
Para Gilmar Mendes, o que vale é o que a Veja diz a cada final de semana.
No Brasil tem sido assim, a Veja acusa (ela sempre tem acesso às provas, mas nunca as apresenta), a Globo reproduz, o PSDB (Arthur Virgílio) e o DEM (Heráclito Fortes) repercutem no Senado.
E o Gilmar concede entrevistas e mais entrevistas para a mídia ultra-conservadora tratando daquela notícia.
(Pela contagem do Paulo Henrique Amorim, o Presidente do Supremo ja concedeu a sua 556ª entrevista).
Ele concede, em média, de sete a quinze entrevistas por semana ou uma ou duas diariamente.
Desmoralizada, à Justiça brasileira só resta desvendar os olhos, levantar-se e tratar de por no prumo a sua balança, visto que, até hoje, ela só pende para o lado dos ricos, mesmo porque, convenhamos, 280 milhões pesa muito mais do que um simples pote de goiabada.
Excelente a tua crônica Orlando! Parabéns! Precisamos de críticos fortes como você. Bjs.
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