A primeira semana de pré-campanha dos dois principais postulantes à Presidência da República – a ex-ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB) – após estes deixarem suas funções públicas termina de uma maneira bastante interessante. Enquanto Serra optou por uma postura mais “reclusa”, dedicando boa parte do seu tempo a analisar os dados do governo Lula para elaboração do seu discurso no lançamento de sua pré-campanha no sábado, 10, Dilma cumpriu agenda em Minas, recebeu apoio do PR e do PCdoB e mostrou aos que duvidavam que não é um “poste”, como afirmara semanas atrás a oposição.
Para entender a repercussão dessa primeira semana de pré-campanha, passemos à análise de três textos veiculados em dois dos principais jornais do país (e palanques preferenciais das forças demo-tucanas): a Folha de São Paulo e o Estadão. Na Folha, nos chama atenção a coluna Pensata, escrita pelo jornalista Kennedy Alencar, e uma matéria com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, ambas publicadas nesta sexta-feira, 9. Já no Estadão, a análise recai sobre a entrevista dada ao jornal pelo ex-Chefe da Casa Civil do governo Serra, em São Paulo, Aloyzio Nunes Ferreira.
Dilma acertou mais do que errou
Com o título “Dilma como ela é”, o colunista Kennedy Alencar faz, em seu artigo, um retrospecto dessa primeira semana de pré-campanha da ex-ministra, na qual ela caminhou “com as próprias pernas”, sem o presidente Lula ao seu lado. Neste sentido, o colunista identifica uma postura mais relacionada ao “ataque” por parte de Dilma: “a petista rebateu crítica indireta da semana anterior em que o tucano afirmou que no seu governo em São Paulo não se cultivaram 'escândalos' e 'roubalheiras'”, diz em sua coluna.
Kennedy Alencar destacou ainda que a postura de Serra foi permanecer em silêncio, deixando para as lideranças tucanas, principalmente para o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a resposta às críticas da pré-candidata petista. Contudo, devemos apontar aqui o que o colunista não teve o cuidado de dizer: que houve ataques sim por parte dos demo-tucanos e que estes ataques partiram inclusive do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, através de um artigo publicado na própria Folha no domingo, 4. FHC procurou colar em Dilma a imagem de autoritária.
O jornalista também se “esqueceu” de mencionar o documento assinado conjuntamente pelo PSDB, DEM e PPS que ataca a visita de Dilma ao túmulo de Tancredo Neves, em São João Del Rey. Logo, podemos notar que a oposição não assumiu a postura de “paz e amor” como o colunista quis fazer entender nas suas entrelinhas. De qualquer forma, Kennedy Alencar encerra seu artigo avaliando que “longe de Lula, [Dilma] acertou mais do que errou no primeiro vôo solo”.
Lobo em pele de lobo
Agora, o mais interessante de verificarmos é a opinião conflitante que existe no próprio ninho tucano. Em primeiro lugar, comecemos com a reação das lideranças tucanas face à declaração de Dilma no Congresso do PR, na segunda-feira, onde ela se referiu à oposição como “lobos em pele de cordeiros”. Sérgio Guerra, ao saber de tal declaração, teve uma reação bastante hostil, como é de seu costume, e esbravejou à imprensa de que o debate sucessório não seria feito “em torno de bichos”.
Na verdade, vemos uma tentativa de Guerra de se esquivar em assumir o papel demo-tucano nesta eleição. Contudo, a estratégia de Guerra foi atingida pela entrevista dada pelo tucano Aloyzio Nunes Ferreira ao Estadão, na qual ele diz: “nossa posição é inequivocamente de oposição. Não somos lobos com pele de cordeiro, somos lobo com pele de lobo”. Ou seja, Nunes Ferreira admite aquilo que os tucanos tentam esconder, que são lobos sim.
Essa é uma postura muito interessante, pois pela segunda vez na semana a máscara demo-tucana cai. Enquanto Serra tenta se apresentar como o “pós Lula”, cada dia mais seus correligionários revelam que são, na verdade, o “anti Lula”, “lobos em pele de lobos”, como apontado pelo próprio Nunes Ferreira. O próprio Sérgio Guerra declarou no começo da semana que “FHC está no DNA tucano. Não existe PSDB sem FHC”: aqui o coordenador da campanha de Serra já deixa claro que um suposto governo tucano seguirá o receituário do período FHC. Isso não é ser “anti-Lula”?
Luta contra a ditadura era exigência moral e ética
Nesta mesma entrevista ao Estadão, Aloyzio Nunes Ferreira refere-se à pré-candidata petista como “uma mulher valorosa, íntegra”, que “será uma candidata forte”. Perguntado sobre a atuação de Dilma na época da ditadura militar, o tucano declara: “tanto ela quanto eu e outros agimos como nossa consciência ditava na época. Lutar contra a ditadura da forma mais radical possível era uma exigência ética e moral”. Aqui Nunes Ferreira contraria o próprio discurso disseminado pela oposição, de que Dilma seria uma “terrorista”.
“Ela lutou contra a ditadura. Com as armas que tinha, com a concepção que tinha, com as limitações que tinha, e eu também. A análise política daquele momento nos levou, tanto ela quanto a mim, a uma posição de ultraesquerda”, revelou. Essa análise de Nunes Ferreira torna-se mais interessante ainda se analisarmos o discurso de seu correligionário Arthur Virgílio (PSDB-AM), que disse no Senado que Dilma “lutou de maneira errada contra a ditadura”.
Percebe-se, neste ponto, que além de uma visão conflitante existente no próprio ninho tucano, o senador Arthur Virgílio faz uma análise bastante rasa do período histórico ao qual ele mesmo diz que lutou contra o regime instituído. Tanto é que seu próprio colega de partido, Nunes Ferreira, reconhece em sua entrevista que o período exigia uma luta contra a ditadura “da forma mais radical”. Vemos, portanto, que os próprios demo-tucanos não se entendem eu seus discursos e o que fica evidente à população, cada dia mais, é que sim – são lobos em pele de cordeiros ou, como já assumiu Nunes Ferreira, lobos em pele de lobos.
Olá, Orlando!
ResponderExcluirFiquei muito feliz por vc publicar meu texto! Mto obrigado!
E parabéns pelo seu blog tb! É excelente! Já estou te seguindo!
Abração!
Leandro